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Estagnação e Desenvolvimento na América Latina

Fazendo uma comparação entre diversos países e regiões ao redor do mundo, em particular entre aqueles que passam por um processo de desenvolvimento e que buscam conquistar ou consolidar o status de economia sólida e estável, pode-se observar uma série de diferenças. Neste processo uma das oposições mais evidentes é a existente entre América Latina e Sudeste Asiático. Tomando-se o período logo após a segunda grande guerra, em que estas duas regiões se encontravam em patamares econômicos e sociais parecidos, aquela que contabilizou maiores avanços foi a asiática. Impulsionada pelo crescimento inicial do Japão, e posteriormente dos chamados tigres asiáticos, Cingapura, Hong Kong, Formosa e Coréia do Sul, vários outros países da região se beneficiaram, e ela é hoje uma das que apresentam melhores condições de um desenvolvimento consistente. O diferencial mais importante[1] para a discrepância dos resultados obtidos entre América Latina e Sudeste Asiático diz respeito às práticas públicas adotadas pelos dirigentes de cada país.
Nas décadas de 1970 e 80 os orientais melhoraram vários índices macroeconômicos, como o de poupança, de escolaridade, renda per capta, capacidade infra-estrutural, aliados a uma melhor eficiência dos serviços públicos. Enquanto isso na América Latina ocorria algo diametralmente oposto. Os países latino-americanos possuem trajetórias semelhantes, na década de 1970 boa parte da região vivia sob regimes autoritários, estes se preocupavam mais em manter-se no poder suprimindo as oposições internas do que aprimorando a gestão do Estado. Como escreve Paul Kennedy: “Em lugar de estimular os industriais a visar os mercados estrangeiros e estimular a economia através do crescimento voltado para a exportação, muitos governos latino-americanos adotaram uma política de importar subsídios, criando sua própria indústria siderúrgica, de cimento, de papel, automobilística e eletrônica, que gozaram de tarifas protetoras, subsídios governamentais e isenções de impostos para protegê-las da concorrência internacional.” [2]
Além disso, o crescimento econômico ocorreu atrelado a pouco rigor no gerenciamento dos gastos do Estado e à sucessiva tomada de volumosos empréstimos estrangeiros, com isso as despesas dos governos cresceram desordenadamente, o que foi agravado por um aumento acelerado da inflação. Na década posterior os países latino-americanos se depararam com uma grave crise financeira, com sua dívida pública de longo prazo chegando a parcelas expressivas do PNB[3] (Argentina, Chile, Brasil, Venezuela) e em alguns casos até maior (Jamaica e Guiana). Um fator que contribui para este endividamento a se destacar é o mau emprego do dinheiro vindo do exterior, que em diversos casos “desaparecia” devido à improbidade administrativa praticada por alguns políticos e administradores. Mesmo havendo nos anos 80 na América Latina uma onda de redemocratização a região enfrentou nesta década uma grave crise financeira, isto porque a retomada da democracia foi acompanhada em muitos casos pela moratória do pagamento dos juros da dívida externa e uma manutenção das práticas protecionistas, de mau gerenciamento público e corrupção. Isto fez com que a desconfiança internacional sobre as economias da região se acentuasse levando a uma fuga de capital. Após um decênio de grandes perdas e isolamento, as neodemocracias do continente sofreram pressões de organismos internacionais e bancos privados para adotarem medidas de responsabilidade fiscal, como a redução da despesa pública, o controle inflacionário e o pagamento da dívida, como prerrogativa na concessão de novos empréstimos.
Infelizmente o aprimoramento das gestões públicas e um maior rigor econômico não são hoje os únicos desafios enfrentados pelas nações latino-americanas, obstáculos de ordem estrutural causados pela ineficiência de governos passados, incidem sobre o processo de desenvolvimento da América Latina. Dentre eles o mais desafiador é o dos sistemas educacionais, que além de não suprirem a demanda, não oferecem uma educação de qualidade. O que compromete um crescimento econômico de longo prazo, pois um mercado que cresce aceleradamente requer que aumente na mesma proporção a formação de profissionais aptos a trabalharem neste processo. A alternativa de curto e médio prazo, encontrada pelos países da região para tentar remediar o fraco desempenho de suas economias, foi adotar uma gestão econômica liberalizante, como a abertura do mercado interno para produtos importados, a privatização de empresas estatais e a transformação de déficits em superávits orçamentários. Isto foi motivado pela já citada pressão de investidores e instituições internacionais, como também, pela necessidade de inserção dos países latino-americanos em uma economia global, de modo que a região não perca o compasso da história, como ocorrera no passado.
[1] As regiões possuem diferenças históricas e culturais que também influíram no processo de desenvolvimento regional, porém o elemento fundamental ainda é a gestão pública, pois países como a Austrália e Espanha, apesar de se diferenciarem no aspecto cultural e histórico, adotaram medidas políticas e econômicas semelhantes à dos asiáticos e também obtiveram resultados positivos. [2] KENNEDY, Paul; Preparando para o Século XXI, Ed. Campus, RJ, 1993, p. 241s. [3] Produto Nacional Bruto.

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