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Dogmatismo X Criticismo: em busca da razão

Derivado do grego dógma, o que se manifesta como bom, opinião, decreto, doutrina, ou ainda, do inglês Dogmatism; do francês Dogmatisme e do Alemão Dogmatismus. O significado do termo dogmatismo foi fixado pela contraposição que os Céticos estabeleceram entre os filósofos dogmáticos, que definem sobre cada ponto a sua opinião e os filósofos céticos que não a definem. Deste ponto de vista, são dogmáticos todos os filósofos que não são céticos.
De um modo geral o dogmatismo, refere-se à asserção de certos princípios e doutrinas de alguém cuja autoridade se reconhece e aceita. Se os princípios defendidos ou o reconhecimento da autoridade não estão criticamente fundamentados, o dogmatismo será sempre ilegítimo; caso contrário, adquire sentido legítimo e positivo e nesta acepção, poderá falar-se de "dogmatismo religioso" no catolicismo: a fundamentação neste caso exigida, suposta a autoridade suprema de Deus, não é necessariamente de ordem interna; basta que seja de ordem externa, para que seja conformativa da interferência da autoridade divina.
Em filosofia, contudo, nunca a autoridade é, por si, argumento decisivo: a própria verdade necessita de uma fundamentação interna que satisfaça as exigências da razão. Por isso, o termo adquiriu frequentemente, sentido pejorativo significando a adesão a alguma doutrina, sem prévia fundamentação crítica. O problema levantou-se, sobretudo, a propósito do problema gnosiológico. Surgiu já nos sécs. IV e III a.C., na escola de Pirro, que considerava "dogmáticos" todos os filósofos que admitissem qualquer certeza para além da experiência (ceticismo). Continuando no espírito desta escola, Sexto Empírico escreveu, no séc. II, a obra "Contra Dogmáticos" em que opõe os argumentos céticos ao dogmatismo dos filósofos gregos, como Platão e Aristóteles. Descartes, com a "dúvida metódica" pretendeu evitar o Dogmatismo; mas, enquanto não pôs em questão o problema da certeza em geral nem a capacidade da mente para a verdade, permaneceu "dogmático" no sentido clássico. Kant considera dogmatismo "o procedimento dogmático da razão pura sem uma crítica preliminar do seu próprio poder”; por isso a mentalidade wolffiana caracterizou-a como "sono dogmático" do qual veio a despertá-lo Hume. Surgiu então o criticismo, como solução entre o dogmatismo, considerado ingênuo e acrítico, e ao ceticismo.
Embora por criticismo se entenda, ordinariamente, a filosofia kantiana, o termo também é empregado em sentido mais genérico, para designar a posição dos filósofos que reconhecem a legitimidade do problema crítico e para os quais, portanto, a crítica ou teoria do conhecimento é legítima e até necessária, como pressuposto e base de toda a ulterior investigação filosófica. Neste sentido se pode dizer que, muito antes de Kant e para além das correntes kantianas o criticismo aparece em todos os filósofos - chame-se eles Aristóteles, Tomás de Aquino ou Descartes - que versaram o problema crítico, importante é, que refletiram sobre o valor objetivo ou o alcance metafísico do conhecimento. E assim é que, não falta entre os neo-escoláticos, quem se oponha, por um lado, ao dogmatismo simplista ou exagerado daqueles que julgam ilegítimas e até mesmo inúteis as reflexões sobre o problema crítico, embora por outro lado, se oponha também ao cepticismo e à escrupulosidade metódica das tentativas de dúvida universal acerca da possibilidade do conhecimento verdadeiro. Tal posição neo-escolástica merece bem o nome de criticismo realista, dogmatismo crítico ou realismo crítico, adverso ao criticismo kantiano; e, se as palavras criticismo e crítico não agradam a todos os neo-escolásticos, isso explica-se, até pelo fato já aludido, de tais palavras se tornarem mais frequentemente em sentido kantiano. No criticismo kantiano, o dogmatismo é, no dizer de Kant, o primeiro passo da razão, característico da infância da mesma; o cepticismo - segundo passo - revela já circunspecção de juízos, filha da experiência; falta ainda o terceiro passo, o do juízo amadurecido e viril, ou seja, a crítica da razão, ou também criticismo. Da evolução do pensamento de Kant quase o mesmo se pode dizer: que ora influenciado por filósofos dogmáticos, ora por filósofos cépticos, ele chegou à fase plenamente crítica, ao criticismo. Lançar as bases e determinar os limites de uma metafísica que supere o cepticismo sem cair num oco e temerário dogmatismo - tal é o fim que Kant se propôs em sua crítica. Nesta, como em rigoroso tribunal, procura ele resolver a grave e fundamental questão: a de saber " o que é que, o entendimento e a razão, livres de todas a experiência, podem conhecer, e até que ponto podem conhecer" - questão esta que é, afinal, a de possibilidade das fontes, da extensão e dos limites da metafísica.

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