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Teoria do Conhecimento: Evidência e Demonstração

EVIDÊNCIA Em seu sentido literal, evidência é a representação ou manifestação de qualquer objeto como tal.
a) A palavra latina correspondente — evidentia — era o equivalente, no latim clássico, do grego euargea e vulgarmente utilizada como termo de retórica simbolizando clareza, “plena visualidade” do que é mencionado no discurso. No domínio da Filosofia, significa o aparecimento do que é verdadeiramente, o que é tão manifesto que exclui a possibilidade de dúvida, e portanto, de erro. A evidência torna-se assim, critério de verdade e de certeza.
b) A Evidência, quanto ao domínio em que pode dar-se, divide-se em empírica, ligada à experiência sensível, e racional; neste último caso a exclusão da possibilidade de dúvida ou erro funda-se na impossibilidade de pensar ao contrário. A Evidência se reveste ainda do aspecto de evidência objetiva (manifestação do objeto como tal) e evidência subjetiva (vivência da Evidência). Outros aspectos da Evidência são a evidência da verdade, objetiva ou intrínseca, que se apoia no objeto apresentado ao intelecto, e a evidência de credibilidade ou extrínseca, que se apoia no fato de a Evidência ser aceita como crível, sem mistura de dúvida alguma.
c) No pensamento grego a Evidência aparece como conceito filosófico rigoroso, embora na época pré-socrática não havia ainda uma distinção, não se estabelecia uma separação nítida entre evidência sensível e evidência racional. A Evidência era sensível quanto à gênese e racional quanto ao valor. d) A doutrinação socrática traduz-se em uma conquista do racionalismo, do íntimo da Evidência subjetiva brota a Evidência objetiva, que estaria necessariamente presente como núcleo de uma verdade universal. Posteriormente, de acordo com a teorias das idéias de Platão, o sentido pleno da Evidência realiza-se apenas na evidência inteligível ou racional. e) Em Aristóteles a Evidência sensível adquire maior objetividade, o inteligível ocorreria como forma substancial no indivíduo corpóreo, a justificação última da Evidência sensível só é alcançável pela evidência racional, mediata, discursiva do ser, cuja formulação mais característica se encontra na definição do silogismo. Esta Evidência racional, por sua vez, culmina na evidência intelectual, imediata, própria dos princípios, que se atinge apenas quando a coisa não pode ser dada diferentemente de como é pensada. f) Os escolásticos ao estudarem o problema das relações entre a razão e a fé, foram levados a uma distinção entre a certeza fundada sobre a evidência racional ou intrínseca, e a evidência do que é considerado verdadeiro, a certeza que se funda na autoridade de Deus, revelada direta ou indiretamente, pela tradição oral ou pela Escritura. Neste último caso encontramo-nos em presença de uma evidência de credibilidade de uma Evidência extrínseca, correspondente ao dogma. g) Na Idade Moderna, as idéias de René Descartes impulsionaram o conceito subjetivo de Evidência, era necessário pensar livremente não assumindo "verdades objetivas" somente porque eram impostas. As regras do método cartesiano prescrevem “não aceitar por verdadeiro, seja o que for, sem que se reconheça evidentemente como tal, isto é, evitar a precipitação e a prevenção e só incluir nos próprios juízos o que se apresenta clara e distintamente ao espírito, por não haver ocasião alguma de o pôr em dúvida”. A Evidência reduz-se à clara distinção das idéias, a oposição entre o sujeito e o objeto. Os problemas são transpostos dos objetos concretos para o domínio das idéias, representando-se porém, neste último domínio, como problemas objetivos. h) O conceito subjetivista de Evidência, ligado à faculdade da intuição, está presente em quase todo o pensamento moderno, o que não impediu que a idéias de evidência objetiva como a filosofia de Franz Brentano e Edmund Gustav Albrecht Husserl, a fenomenologia, também se manifestassem. Ela reflete o papel desempenhado pela Evidência em sentido geral e sua conexão com o problema da verdade, regressando ao antigo conceito de Evidência objetiva, a realidade é da forma como a percebemos. A Evidência é portanto, uma propriedade do chamado “juízo correto”, um juízo deve ser mediata ou imediatamente evidente. A noção husserliana de Evidência é possível de se explicar a vários outros domínios alheios à teoria. É o que acontece na doutrina axiológica de Max Scheler, em que se pode falar de uma evidência preferencial, indicadora das relações hierárquicas objetivas dos valores. De resto, todo o movimento fenomenológico, e em geral as correntes contemporâneas por ele influenciadas, admitem como critério de verdade a Evidência, no seu caráter objetivista, isto é, como manifestação do objeto como tal, seja ele qual for e sejam quais forem também os métodos em que se verifica a sua presença ou manifestação.
DEMOSTRAÇÃO
1. Noção. Demonstração, em sentido vulgar, significa toda a argumentação tendente a estabelecer a verdade de uma proposição. Mais rigorosamente, processo lógico-discursivo pelo qual, de premissas certas e verdadeiras, se infere a certeza e a verdade de uma conclusão. Como tal, a demonstração é o fundamento do conhecimento científico. Com efeito, a ciência é um conhecimento sistemático, explicativo, baseado em questões necessárias (causas). Ora a Demonstração tem por finalidade evidenciar ou explicar o nexo causal que liga o desconhecido ao conhecido. E o silogismo, como forma mais perfeita de raciocínio, constitui o instrumento por excelência da demonstração. Atendo à matéria, ao tipo de proposições que exige, podemos definir a Demonstração como sendo o silogismo formado de premissas verdadeiras, primeiras e imediatas, anteriores à conclusão, mais conhecidas do que ela e que atuam como sua causa.
2. Espécies. A Demonstração descrita acima recebe o nome de propter quid (porque acontece), não só mostra a conveniência do predicado com o sujeito, mas declara a causa intrínseca, próxima e adequada de tal conveniência. É também dita a priori porque parte dos princípios para as conseqüências, do naturalmente anterior para o naturalmente posterior. É esta Demonstração que Aristóteles se empenhou em definir, por representar o tipo ideal, que mede e regula os demais. Há porém outros tipos de Demonstração imperfeita ou quia (como acontece), que se limitam a indicar o que uma coisa é, sem declarar a razão intrínseca e próxima pela qual é. Podem ser a priori ou a posteriori. No primeiro caso, é dada a razão da conclusão, mas uma razão longínqua e comum, que pode dar origem a outras conclusões. Mas a forma mais vulgar de Demonstração imperfeita é a Demonstração a posteriori. Esta consiste em demonstrar alguma coisa a partir de seus efeitos (do que é por natureza posterior ao que é anterior).
3. Valor. A própria razão demonstra que nem tudo pode ser demonstrado, pois teríamos uma série infinita de demonstrações ou cairíamos num processo circular. Ora é impossível percorrer uma série infinita de demonstrações antes de estabelecer qualquer conclusão, e o processo circular é vicioso já que uma proposição seria Demonstração de si mesma, anterior e posterior a si mesma, mais conhecida e menos conhecida, o que é contraditório. Por isso que a ciência, em sentido rigoroso, a ciência demonstrativa, não é o único processo de conhecimento, também não foi o primeiro ou é completamente perfeito.
LOGOS. Enciclopédia Luso - Brasileira de Filosofia. Volume I, Verbo Editora, São Paulo - São Paulo, 1989.
CAROSI, Paulo. Introdução e Gnosiologia Lógica, Volume I, 2º Ed. Edições Paulinas, São Paulo - São Paulo, 1969.

Um comentário:

Unknown disse...

Prezado Helio
O seu blog está IMPECÁVEL, gostei dos conteúdos e a formatação visual do blogo como um todo. Quanto ao estudo das eleições durante a ditadura que informar que a minha tese de conlusão da especialização foi o MDB no Paraná, se for do seu interesse posso colaborar com o seu blog. Saudações, Moacir Ribeiro de Carvalho jr.