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Aspectos da Visão de Maquiavel do Governante

O secretário florentino, funcionário público e exímio observador da classe governante possuía uma visão ímpar da política de sua época[1]. Preocupado com a questão de como se chegar ao poder e sobretudo como mantê-lo, Maquiavel escreve “ O Príncipe ”. Pragmático, ele em sua obra vai dar muita importância à aplicação e à prática da política, dando ênfase à técnica e distanciando-se da ética.
A justiça e a moralidade para um governante, segundo Maquiavel, são relativas às situações em que ele se encontrar, ora ele pode magnânimo, ora cruel, em um momento ser justo em outro agir com leviandade, atitudes que têm como objetivo garantir o poder que pode ter sido adquirido pela sorte, pelas armas próprias ou alheias e ainda pelo favor de seus concidadãos. Sobre este último caso Maquiavel escreve:
“ Para atingir tal posição, o cidadão não dependerá interinamente do valor ou da sorte, mas da astúcia afortunada” [2]. E em relação ao governo dos príncipes:
“ É necessário, que o príncipe que deseja manter-se, aprenda a agir sem bondade, faculdade que usará ou não, em cada caso, conforme seja necessário” [3].
Maquiavel propõe uma análise contextual antes de se tomar decisões, e através delas o príncipe pode agir com liberdade moral diante de cada tipo de necessidade. Em relação à justiça especificadamente Maquiavel parece sugerir uma maior retidão e coerência ao governante no que diz respeito ao povo. Ele na maioria dos casos, senão todos, necessita de apoio popular para assegurar-se no poder e a população possui um desejo maior do que outros, o de não ser oprimida em demasia. O príncipe necessita de bom senso no momento de julgar de modo que não caia em desgraça popular, pois segundo Maquiavel este apoio é importante por ser mais leal do que o dos nobres, então ele sugere:
“ É muito útil também para o príncipe dar algum exemplo notável de sua grandeza no campo da administração interna ( ... ) . Quando acontece que algum cidadão fez algo extraordinário na vida política – algo de bom ou de mal – é preciso achar um meio de recompensa ou punição que seja amplamente comentado. Acima de tudo, um príncipe deve procurar, em todas as suas ações, conquistar fama de grandeza e excelência” [4].
O pensador florentino, no que tange a esfera da governabilidade é teórico da abordagem factual das situações, não dando tanta importância ao aspecto moral, tanto que propõe uma espécie de “ astúcia afortunada ” e uma forma de justiça que satisfaça mais a opinião do povo do que as convicções do próprio governante. A relação do governante com seus aliados e inimigos têm íntima relação com a forma com que ele chegou ao poder. É na trajetória de ascensão à posição de soberano que o príncipe negocia auxílios alheios, exercita sua influência e carisma, bem como também sua força. Neste percurso então é que ele angaria afetos e desafetos de acordo com a necessidade.
Maquiavel é bastante realista sobre este tema, várias vezes evocando a História para dela tirar lições e a que mais fica evidente é que, a relação de amizade e inimizade de um governante é dinâmica e mutável. O inimigo do passado pode se tornar aliado no presente, o aliado do momento pode vir a se tornar seu inimigo no futuro, isto decorre da necessidade do príncipe alcançar e manter o poder. Para Maquiavel este relacionamento baseia-se basicamente nos interesses do príncipe e nas circunstâncias do momento.
Em “ O Príncipe ”, Maquiavel, deixa claro a necessidade de armas para se chegar e exercer algum domínio e de como a relação com aliados e inimigos estarão sempre permeadas por elas. Dependendo do poderio de um príncipe um vizinho ou governo inimigo pode titubear em fazer uma agressão a ele, seus aliados , auxiliares e povo também podem ter esta posição por temerem sua força. Percebe-se que Maquiavel sugere que o maior aliado de um governante são as suas armas e o seu pior inimigo é aquele que possui tão ou maior força coatora.
Ele ainda cita, o risco que é possuir aliados tão fortes quanto o próprio governante, particularmente no caso dos nobres, pois eles em determinados momentos podem fazer alianças, sem o conhecimento do príncipe, com seus inimigos com o objetivo de usurpar-lhe o poder. Enfim, Maquiavel enumera de maneira geral a prudência, a astúcia e a imposição da autoridade pelas armas entre outras, como os cuidados que um príncipe deve ter nos relacionamentos com os inimigos, como também, com os seus aliados.
[1] Nicolau Maquiavel nasceu em Florença no ano de 1469 e lá viveu até sua morte em 21 de junho de 1527. [2] MAQUIAVEL,Nicolau, O Príncipe, trad.: Pietro Nasseti, ed. Martin Claret, S. P. , 2002, pág. 68. [3] MAQUIAVEL, Nicolau, op. cit., pág. 93. [4] MAQUIAVEL, Nicolau, op. cit., pág. 125.

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