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O "Monopólio dos Profissionais" de Pierre Bourdieu

A grande maioria das sociedades nas quais o processo político é a base para formular sua organização, sobretudo aquelas que adotam modelos representativos, observa-se uma clara divisão entre os detentores do poder político e aqueles que apenas se submetem a este poder. Observa-se uma pequena parcela da sociedade participando da arena política diretamente, assumindo um papel importante no debate e outra parcela, muito maior, de pessoas à margem do processo político. Isto ocorre segundo Pierre Bourdieu por dois motivos; primeiro porque a política tem se transformado em um sistema complexo e que requer um mínimo de competência social e técnica para uma participação ativa. O segundo fator de divisão apontado por Bourdieu é o desapossamento cultural e material, em especial o baixo índice de tempo livre e de capital cultural, que experimenta a grande parcela da sociedade. Estes dois fatores contribuiriam para a formação do que ele chama de “simples aderentes”, pessoas que pela falta de competência técnica e social aliada ao desapossamento cultural e material, não teriam uma opinião política consistente, estando assim sujeitas a simplesmente aderirem a um político ou partido sem qualquer motivação ideológica. Isto acarreta uma centralização dos temas em debate, os temas e demandas mais importantes à classe politicamente ativa estarão sempre mais propensos a se tornarem viáveis, em detrimento das demandas dos simples aderentes. Por mais que suas necessidades sejam urgentes e interessem à coletividade, elas sofrerão uma espécie de censura, na medida que enfrentam dificuldades para se tornarem temas importantes da arena política. Esta concentração da pauta do campo político nas mãos daqueles que possuem competência social e técnica e recursos materiais e culturais, é chamado por Bourdieu de “monopólio dos profissionais”, esta monopolização gera também uma oligarquização política através do partidos. Isto é, a representação das demandas no cenário político, ficaria praticamente restrita às organizações partidárias, estando estas “entregues a um corpo de profissionais”. A maioria da sociedade estaria condenada à marginalidade política ou a aderirem às propostas e idéias dos profissionais da política. Este cenário pode gerar também uma espécie de fidelidade indiscutida, caso em que as pessoas se tornam cegamente fiéis a um político ou partido, sem exercer qualquer crítica ao seu desempenho. Sem orientação ideológica e motivados pelo mais raso pragmatismo, os eleitores se tornariam dependentes permanentemente das organizações partidárias, para terem suas demandas inseridas na arena política, e desta forma, terem uma chance de serem atendidos. Tendo em vista que meios alternativos de representação de interesses, como associações, grupos de pressão, etc., não seriam meios de manifestação política efetivos. A isto Bourdieu chama de fides implicita, isto é, “a delegação global e total que os mais desfavorecidos concedem em bloco ao partido de sua escolha, uma espécie de crédito ilimitado, deixando o caminho livre aos mecanismos de tomada de decisão que tendem a retirar-lhes (dos menos favorecidos) a posse de qualquer controle sobre o aparelho”. Isto abre espaço para que os mandatários que fazem parte da cúpula partidária imponham seus interesses como sendo os interesses de seus eleitores. O autor considera ainda que, a “abstenção ativa”, uma espécie de despolitização consciente, como uma forma de repúdio à impotência da maioria da população ante o monopólio dos profissionais no campo político. Mesmo que ela não traga resultados práticos e possua ainda possíveis efeitos contrários, como o domínio total e inconteste da política pelos profissionais do ramo.
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Capítulo VII. Editora Bertrand Brasil. 2001.

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